segunda-feira, 3 de abril de 2017

No Brasil, telescópio russo vai monitorar lixo espacial e proteger satélites de colisão

MCTIC
30 de março de 2017

Numa parceria com o LNA, telescópio russo foi instalado no Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais. Foto: LNA

Fruto de uma parceria entre o Laboratório Nacional de Astrofísica e a Roscosmos, telescópio será inaugurado nesta quarta-feira (5). Iniciativa favorece a cooperação científica com a Rússia, que tem grande tradição em astronomia.

A partir da próxima semana, os satélites de comunicação que circulam na órbita da Terra terão menos risco de colisão com detritos espaciais. Com isso, as redes de telecomunicação do Brasil e do mundo ficam mais protegidas, diminuindo as chances de terem os serviços temporariamente inoperantes. Tudo isso graças ao telescópio russo instalado no Observatório do Pico dos Dias, em Brazópolis (MG), para monitorar o lixo espacial. O equipamento é fruto de uma parceria entre a Roscosmos, a agência espacial da Rússia, e o Laboratório Nacional de Astrofísica, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC).

Primeiro telescópio da Roscosmos no hemisfério sul, o equipamento será inaugurado na próxima quarta-feira (5), mas, ainda na fase de testes, foi capaz de detectar cerca de 200 detritos espaciais numa única imagem. "Existe uma preocupação em proteger os satélites da Rússia e do mundo inteiro dos detritos espaciais e, com isso, garantir que os serviços dos satélites não sejam comprometidos. Tudo que utilizamos no dia a dia corre risco de interrupção caso um satélite em órbita seja danificado", explica o diretor do LNA, Bruno Castilho.

Segundo ele, o telescópio é importante para o cidadão e também para as pesquisas astronômicas desenvolvidas no Brasil. "Vamos ter acesso a uma grande quantidade de dados sem custos para o país, com acesso para todos os pesquisadores interessados", acrescenta.

Base de dados

Com o novo equipamento, um investimento de R$ 10 milhões feito pela Roscosmos, o LNA poderá detectar e mapear detritos na órbita do planeta, fragmentos de foguetes e pedaços de satélites que vagam pelo espaço, para criar uma base de dados com a localização e a trajetória dos objetos que apresentam risco de colisão com satélites artificiais ativos ou, no caso de objetos maiores, com o planeta Terra depois de entrar na atmosfera. A base de dados, que ficará sob responsabilidade da agência russa, vai orientar a adoção de medidas para evitar eventuais colisões.
"O LNA vai ter cópia de todas as imagens, que poderão ser usadas para pesquisas em astronomia, supernovas, estrelas variáveis e asteroides. Todos os astrônomos brasileiros poderão utilizar os dados, desde que apresente um projeto de pesquisa solicitando as imagens para determinado fim", afirma Castilho.

Por que o Brasil?

Em novembro de 2016, uma equipe russa desembarcou no Brasil e se juntou a pesquisadores brasileiros para dar início à instalação do telescópio na cúpula de seis metros de diâmetro no Observatório do Pico dos Dias. O que a Roscosmos quer é fotografar "essa parte do céu" para ampliar o mapeamento da órbita terrestre e o monitoramento do lixo espacial. A agência possui um telescópio semelhante na Rússia que acompanha a movimentação dos objetos "na parte norte" da órbita terrestre.

"A Rússia queria um instrumento desses no hemisfério sul. Para a escolha do Brasil e do Observatório do Pico dos Dias foram considerados vários fatores que vão desde a localização, passando pela infraestrutura do LNA e dos nossos laboratórios. A inauguração desse telescópio é fruto de um convênio de cooperação científica dentro do acordo dos Brics, assinado em 2016", esclarece o diretor do LNA.

Desde a assinatura do acordo de cooperação científica até a inauguração do telescópio, o projeto cumpriu todas as etapas do seu cronograma dentro do prazo estipulado de um ano. "Foi tudo exatamente dentro do cronograma. Os equipamentos chegaram em outubro, os profissionais russos responsáveis pela instalação e orientação da equipe brasileira em novembro e, em fevereiro, a montagem foi concluída. Em um ano desde a assinatura do projeto, o equipamento foi consolidado e entra em operação funcionando perfeitamente."

A Fundação de Apoio à Pesquisa de Itajubá (Fupai) vai gerenciar os recursos de operação e manutenção do equipamento e os custos da equipe. No dia 5 de abril, um engenheiro russo desembarca no Brasil para treinar os técnicos brasileiros que vão comandar o telescópio. "Estamos abrindo uma porta de colaboração com a Rússia, que tem enorme tradição na astronomia. Esse acordo é uma abertura para novos acordos futuros. O prazo inicial de operação do telescópio é de seis anos, renovável até quando o projeto de mapeamento dos detritos for importante", diz Castilho.

A instalação do telescópio faz parte do projeto da Agência Espacial Russa intitulado Panoramic Electro-Opical System for Space Debris Detection (PanEOS) que prevê a construção e operação de uma rede de instalações desse tipo de telescópio na Rússia e em vários outros pontos do planeta. A África do Sul, também dos Brics, é um dos países do hemisfério sul onde a Roscosmos pretende instalar outro exemplar desse telescópio.

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