segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Cientistas consolidam dados sobre clima obtidos por satélite

MCTIC, via AEB
13 de fevereiro de 2017



Especialistas em meteorologia e sensoriamento remoto se reuniram no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), para iniciar um novo ciclo de consolidação de dados climáticos obtidos a partir de satélites das principais agências espaciais do planeta. No encontro, realizado na semana passada, o grupo se comprometeu a concluir o trabalho até setembro, quando volta a se reunir em Frascati, na Itália. A análise envolve quase 800 variáveis e deve gerar uma página pública na internet ainda em 2017.

Segundo o chefe da Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (DSA/CPTEC), Daniel Vila, o grupo de trabalho sobre clima (WGClimate, na sigla em inglês) coordena e incentiva atividades de colaboração entre as maiores agências espaciais do mundo na área de monitoramento climático, a fim de analisar a oferta de informações de satélites e melhorar a disponibilidade de registros de dados, por meio da implementação e do desenvolvimento de uma arquitetura global.

“O WGClimate estuda o clima a partir de dados de satélites”, explica Vila. “Você pode fazer atividades semelhantes com base em informações convencionais, que se coletam em estações meteorológicas ou em balões lançados na atmosfera, ou seja, medições diretas de temperatura, pressão, umidade. Mas, no nosso caso, os dados monitorados vêm do espaço.”

A reunião levou ao Inpe membros do Comitê de Satélites de Observação da Terra (Ceos) e da Coordenação Geral de Satélites Meteorológicos (CGMS), ligada à Organização Meteorológica Mundial (OMM). “O objetivo é garantir que as medições de aproximadamente 800 variáveis climáticas, como precipitação, temperatura e umidade, sejam armazenadas e padronizadas de maneira adequada, para se chegar a uma homogeneidade de dados, que, para nós meteorologistas, precisam ter histórico de pelo menos 30 anos”, detalha. “Assim, a WGClimate tem duas funções: garantir a integridade das bases e a existência de satélites que sustentem a continuidade desses parâmetros.”

Desde 1984, cabe ao Ceos a coordenação global de programas espaciais civis e o intercâmbio de dados de satélites de observação da Terra. “Nós do WGClimate, que foi criado em 2010, temos a tarefa de verificar bases distribuídas em diversos lugares do mundo”, informou o chefe da DSA, em referência, por exemplo, às agências espaciais dos Estados Unidos (Nasa, sigla para Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço), da França (CNES, sigla para Centro Nacional de Estudos Espaciais) e da Alemanha (DLR, sigla para Centro Aeroespacial Alemão), além da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (Noaa).

Sistematização

No encontro, o grupo atualizou seu inventário de Variáveis Climáticas Essenciais (ECVs) e analisou a constelação atual e futura de satélites, para garantir a continuidade dos parâmetros voltados ao monitoramento. “O grupo coordena esse conjunto de bases de dados e organiza as informações de cada uma delas, de acordo com a variável, o ano de início de coleta, os sensores da medição, o algoritmo utilizado etc.”, disse. “Colocamos tudo em um repositório, uma base de dados de todas as bases de dados, disponível na internet, em uma página com possibilidade de ficar pública até o final do ano.”

Os membros do WGClimate tem setembro como prazo para terminar de conferir a consistência e a homogeneidade da documentação associada aos dados. Para aquele mês, está marcada a próxima reunião do grupo, em Frascati, sede da ESA. “A partir daí, as informações precisam ser publicadas. Então, pesquisadores ou outras pessoas de diferentes lugares do mundo poderão acessar essa lista de variáveis que estamos compilando e, a partir disso, chegar a links que ligam diretamente os registros à base de dados original, alocada nas agências – na Nasa, na NOAA ou mesmo no Inpe.

A equipe também deve finalizar um documento a ser entregue ao Ceos e à CGMS. “Nós elaboramos um relatório sobre o trabalho feito, com destaque para recomendações, onde enxergamos problemas”, apontou. “Por exemplo, se notássemos que a partir de 2020 não haveria previsão de satélites capazes de medir alguma variável, como dióxido de carbono, e que teríamos o risco de perder a continuidade temporal, então faríamos esse alerta. Eles passam as recomendações às agências espaciais, para, de alguma maneira, criar uma necessidade de lançar satélites para lidar com essa problemática. Esse é o nosso trabalho e estamos justamente no começo da cadeia.”

O Inpe contribui no trabalho com dados coletados pelo Cbers-4, do programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), iniciado em 1988. “A partir dele, a gente está criando mapas de desmatamento. São bases de dados sobre cobertura da Terra, que podem ser utilizadas como informação climática. Temos bases de dados de satélites desde os anos 1980.”

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