quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Projetos estratégicos de defesa serão adiados por falta de recursos

Agência CT&I
Leandro Cipriano
23 de novembro de 2016

C-390 é um dos projetos afetados pela crise - Foto: Embraer

A crise econômica no País teve fortes impactos no desenvolvimento dos projetos nacionais estratégicos de defesa que foram descontinuados devido à falta de recursos. Programas como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), com previsão inicial para ser lançado em 2017, e a modernização tecnológica do blindado Guarani, que deveria ser entregue a partir de 2020, serão adiados para 2035 em virtude do insuficiente repasse de verba. O submarino de propulsão nuclear, também afetado, teve seu prazo de conclusão estendido de 2023 para 2027.

Dos 12 projetos principais do Ministério da Defesa, que incluem submarinos nucleares, caças, blindados e outros, com custo total estimado em R$ 122 bilhões, foram gastos até agora R$ 27 bilhões, sem previsão de onde novos aportes poderão surgir para completar o restante. O projeto mais caro é o Guarani, com investimento de R$ 20,8 bilhões, mas que foram repassados R$ 400 milhões até o momento. No submarino de propulsão nuclear, R$ 1,8 bilhão já foram investidos, mas ainda faltam cerca de R$ 7 bilhões para ser concluído.

Os dados foram apresentados nesta terça-feira (22) pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, em audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara dos Deputados. Segundo ele, o intuito da ida ao Congresso Nacional é chamar a atenção de parlamentares para assegurar recursos no Orçamento para as principais iniciativas da pasta. “Esses projetos são a espinha dorsal da mudança, da transformação e da inovação que é necessária e se faz premente para a continuidade da defesa nacional”, afirmou o ministro.

Um deles, o cargueiro militar KC-390, aguarda a decisão do Congresso Nacional para ser incluso no Orçamento. O projeto precisa de R$ 200 milhões para ser completado, receber sua certificação e, então, entrar no mercado. A projeção da Embraer com o equipamento é um faturamento de até R$ 2 bilhões por ano em exportações. “Isso dá uma ideia da necessidade que temos do engajamento do Congresso nesse desenvolvimento, que sem o qual, ficaremos decisivamente para trás em termos da nossa capacidade de defesa”, alertou Jungmann.

“O [KC] 390 tinha uma expectativa de venda já esse ano, mas que desistiu de licitação porque os recursos não vieram e atrasaram o desenvolvimento do avião”, informou o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato. “Existem aviões que estão sendo desenvolvidos em outros países e vão aparecer no mercado também. E o que nós gastamos vamos acabar perdendo, exceto para atender a Força Aérea Brasileira.”

No caso do Guarani, Jungmann pontuou que a atualização dos blindados representaria uma renovação da frota brasileira nesse campo, visto que equipamentos obsoletos continuam sendo usados pelas Forças Armadas. Contudo, a modernização tecnológica terá que esperar até 2035 para ser concluída, devido ao “andar orçamentário” do processo. “Estamos no limite mais baixo em termos da nossa capacidade de levar adiante esse projeto, por contas orçamentárias”, lamentou o ministro.

Outras iniciativas continuam sem previsão de continuidade. É o caso do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz). O corte nas verbas fez a Marinha suspender o projeto, idealizado para monitorar o mar territorial do País e proteger os recursos do pré-sal. “Esse e outros projetos se encontram praticamente paralisados. Os que continuam estão em uma velocidade próxima do vegetativo”, ponderou.

Ao menos um dos projetos que estão em andamento, sem previsão de atrasos, é o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que vai levar internet banda larga para todo o País e garantir comunicação segura ao governo brasileiro. Jungmann anunciou que na próxima semana ele vai até à França receber o satélite nacional. O equipamento será lançado em março de 2017 na Guiana Francesa.

Ameaças

Para o ministro, é necessário manter a continuidade desses projetos para garantir o uso adequado dos recursos públicos, a segurança nacional e o enfrentamento às ameaças. “Não apenas pelo que já foi investido, e é muito, mas também porque nesse mundo globalizado, onde as ameaças são plurais e a instabilidade reina é decisivo e fundamental ter esses projetos”, ressaltou.

Entre as ameaças presentes, Jungmann citou a dependência tecnológica do Brasil de outros países, a escassez de recursos naturais, terrorismo, segurança pública em alguns estados, insuficiente capacidade operacional das Forças Armadas, sistemas de informação críticos, catástrofes naturais e pandemias e instabilidades políticas na América do Sul. 

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