quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Programas científicos de mudanças climáticas ajudam a consolidar rede de pesquisas em ciência do sistema terrestre do INPE

INPE Informa
31 de agosto de 2016

Sub-redes da Rede Clima estão distribuídas em 12 estados do país

Em entrevista publicada em edição anterior do INPE Informa (http://www.inpe.br/informativo/05/nota.01.php), o pesquisador Jean Ometto, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do INPE, enfatizou a importância das interações multidisciplinares para o desenvolvimento e a consolidação dessa que é a mais nova área de atuação do Instituto. Nesse sentido, o papel integrador que o INPE exerce na liderança de grandes programas de pesquisas em mudanças climáticas tem contribuído significativamente para o reconhecimento da instituição como referência na área. 

Atualmente, o INPE abriga as Secretarias Executivas da Rede Clima (http://redeclima.ccst.inpe.br) e do Programa FAPESP Mudanças Climáticas Globais (http://www.inpe.br/mudancas_climaticas/). Durante dez anos, o Instituto também foi sede do escritório regional do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP, na sigla em inglês), por quatro anos, do escritório regional do Global Land Project (GLP) e, por sete anos, da secretaria do INCT para Mudanças Climáticas (http://inct.ccst.inpe.br). "Esses programas mantêm o INPE permanentemente inserido nas discussões, ações e iniciativas da comunidade científica que trabalha com o tema, e isso tem um valor inestimável, não só para os pesquisadores e para a nossa pesquisa, como também em nível institucional", afirma Ometto. 

A Rede Clima (Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais), instituída em 2007 pelo governo federal, tem como principal função elaborar análises sobre o estado do conhecimento das mudanças climáticas no Brasil, nos moldes dos relatórios do IPCC, porém com abordagens setoriais mais específicas para subsidiar a formulação de políticas públicas nacionais e internacionais. Assim, constitui-se em um importante pilar de apoio às atividades de Pesquisa e Desenvolvimento do Plano Nacional de Mudanças Climáticas para atender às necessidades nacionais de conhecimento sobre mudanças do clima. 

Estruturada em 16 sub-redes¹ distribuídas nas cinco regiões do país, a Rede Clima tem abrangência nacional, envolvendo dezenas de grupos de pesquisa em universidades e institutos. O INPE coordena a sub-rede Modelagem Climática, que tem como principal motivação desenvolver e utilizar modelos numéricos do sistema terrestre (oceano-criosfera-atmosfera-biosfera) com o objetivo de projetar as mudanças climáticas em escalas global e regional decorrentes de ações antrópicas e naturais. A sub-rede é responsável por disponibilizar os recursos de supercomputação da Rede Clima e por facilitar o uso de modelos climáticos, incluindo os desenvolvidos pelo INPE, para a comunidade científica nacional, principalmente para as demais sub-redes. 


Dentre as principais contribuições da Modelagem Climática da Rede Clima estão a participação pioneira do Brasil como nação contribuinte para os cenários globais de mudanças climáticas do projeto CMIP-5 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 5), base para a elaboração do 5º Relatório do IPCC. Os cenários de mudanças climáticas gerados pelo BESM (Brazilian Earth System Model) também integraram a contribuição da Rede Clima para a Terceira Comunicação Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil à Convenção Quadro para Mudanças Climáticas da ONU. 

Representação esquemática dos modelos componentes e acoplador de fluxos do 
Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre – BESM

Conferência internacionalNos dias 28 a 30 de setembro, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas realiza uma conferência internacional (www.fapesp.br/eventos/inct) para a apresentação de resultados e perspectivas, no encerramento do projeto, após seis anos de duração. O evento será realizado no Espaço APAS, em São Paulo e tem o apoio do INPE, Cemaden e FAPESP. 

O INCT para Mudanças Climáticas é o maior dos 123 institutos nacionais de ciência e tecnologia criados em 2008 pelo então Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Os projetos são financiados pelo CNPq, pela Capes e, no caso daqueles sediados no Estado de São Paulo, pela FAPESP. Estão distribuídos em 17 estados brasileiros, cobrindo a maior parte das áreas de Ciência e Tecnologia. 

Com o objetivo de servir de base à implantação e desenvolvimento de uma abrangente rede de pesquisas interdisciplinares em mudanças climáticas, o INCT para Mudanças Climáticas embasou-se, inicialmente, na cooperação de 76 grupos de pesquisa nacionais de todas as regiões e 16 grupos de pesquisa internacionais. Após seis anos de atuação, chegou a 108 instituições, sendo 17 delas internacionais, da África do Sul, Argentina, Chile, EUA, Japão, Holanda, Índia, Reino Unido e Uruguai, envolvendo na sua totalidade cerca de 300 pesquisadores, estudantes e técnicos e constituindo-se na maior rede de pesquisas ambientais já desenvolvida no Brasil. Mais de 1.400 publicações, entre livros, capítulos de livro e artigos em revistas nacionais e internacionais foram geradas, junto com dezenas de apresentações em eventos científicos e para o público amplo. 

Espelhando-se na estrutura do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas IPCC, o Programa se organizou em três eixos científicos principais: base científica das mudanças ambientais globais; impactos-adaptação-vulnerabilidade; e mitigação. Incluiu também esforços de inovação tecnológica em modelos do sistema climático, geossensores para medir a concentração de gases de efeito estufa, e sistema de prevenção de desastres naturais. Esta temática científica foi organizada em 26 subprojetos de pesquisa. 

O INCT para Mudanças Climáticas vinculou-se estreitamente a pelo menos duas outras redes de pesquisa em mudanças climáticas. Em primeiro lugar, esteve diretamente associado à Rede Clima, cobrindo todos os seus aspectos científicos e tecnológicos de interesse, além de fornecer articulação, integração e coesão científica à Rede. Em contrapartida, mecanismos financeiros existentes para a Rede Clima forneceram financiamento suplementar para a implementação bem-sucedida do INCT. O projeto esteve igualmente associado ao Programa FAPESP Mudanças Climáticas Globais. 

Atendendo à missão prevista no edital do CNPq para os projetos, o INCT para Mudanças Climáticas se propôs ainda a promover a formação de mestres e doutores em suas linhas temáticas, no intervalo de 5 anos. Foram concluídos 332 mestrados, 230 doutorados e 104 pós-doutorados, além de 153 iniciações científicas. 

No importante quesito das políticas públicas, o INCT para Mudanças Climáticas, em parceria com a Rede Clima e com programas estaduais e internacionais de pesquisas em mudanças climáticas, contribuiu como pilar de pesquisa e desenvolvimento do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Também apoiou os trabalhos científicos relevantes para a elaboração do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas. Forneceu subsídios científicos úteis para a preparação do 5º Relatório Cientifico do IPCC (IPCC AR5) e do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) - ambos publicados em 2014 - e para os estudos de impactos das mudanças climáticas e análise de vulnerabilidade setorial para a preparação da Terceira Comunicação Nacional (TCN) do Brasil na Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCC), apresentados na Conferência das Partes (COP-20), em Lima, em 2014. 

Também cumprindo recomendação do CNPq aos INCTs, o projeto manteve uma equipe de três bolsistas alocados na Secretaria Executiva, para o desenvolvimento de atividades de divulgação científica e popularização da ciência. O trabalho resultou em 12 participações do INCT para Mudanças Climáticas em eventos de popularização da ciência (dentre estes, quatro edições da Reunião da SBPC e quatro da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia); nove cartilhas educacionais; dois CD-ROM interativos; um desenho animado educacional; um quiz educacional interativo; sete vídeos educacionais; e um portal na Internet para reunir os produtos gerados. 

Estrutura de pesquisas do INCT para Mudanças Climáticas

Pesquisas no Estado de São Paulo

Estruturado em projetos temáticos, o Programa FAPESP Mudanças Climáticas Globais tem como objetivo avançar o conhecimento no tema e auxiliar a tomada de decisões relacionadas a avaliações de risco e estratégias de mitigação e adaptação. O Programa abrange um componente dedicado ao desenvolvimento das tecnologias apropriadas para o futuro, não somente voltadas a ações inovadoras para mitigação de emissões, mas também tecnologias para adaptação em todos os setores e atividades. 

Os objetivos do programa também abrangem um componente observacional, voltado para a recuperação e expansão de observações climáticas regionais e paleoclimáticas, visando superar a deficiência de observações ambientais de qualidade para pesquisas, que tem sido um enorme obstáculo ao avanço científico do tema no Brasil. 

Projeção institucional

Além de contribuir para o intercâmbio de conhecimento, o que já faz parte da cultura da comunidade científica, sediar programas da importância dos anteriormente citados possibilita maior visibilidade também no âmbito institucional. "A cada ação, a cada evento, a cada publicação gerada por esses programas, o nome do INPE é evidenciado, e isso atrai os olhos dos diversos públicos de interesse (stakeholders) para a instituição como um todo, e não somente para as suas pesquisas em mudanças climáticas", afirma Jean Ometto. 

Em contrapartida, os programas esperam poder contar com uma estrutura física e operacional capaz de suprir demandas que incluem instalações, linhas telefônicas, computadores, logística de transporte, manutenção de site na Internet e recursos humanos para a gestão administrativa e organização de reuniões e eventos científicos. Em tempos de escassez de recursos humanos e de cortes no orçamento das instituições públicas de pesquisa, esse compromisso torna-se bastante complexo. Ometto reconhece as dificuldades em manter essa infraestrutura no INPE. "Apesar disso, entendo que é fundamental que se faça um esforço no sentido de garantir a permanência de programas como a Rede Clima e o FAPESP Mudanças Climáticas dentro do INPE", argumenta. "As unidades de pesquisa do governo são estratégicos pontos de contato na interface entre a ciência e as políticas públicas, e esses programas se constituem em importantes elementos catalizadores desse processo". 

¹Agricultura (Embrapa/MT), Biodiversidade e Ecossistemas (MPEG/PA), Cidades (UFMG/MG), Desastres Naturais (UFSC/SC), Desenvolvimento Regional (UnB/DF), Divulgação Científica (Unicamp/SP), Economia (USP/SP), Energias Renováveis (UFRJ/RJ), Modelagem Climática (INPE/SP), Usos da Terra (UnB/DF), Oceanos (UFCE/CE), Políticas Públicas (IPEA/DF), Recursos Hídricos (UFPE/PE), Saúde (Fiocruz/RJ), Serviços Ambientais dos Ecossistemas (INPA/AM), Zonas Costeiras (FURG/RS).

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