quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Mudanças na órbita da Terra levaram primeiros humanos para fora da África

Estadão
Fábio Castro
21 de setembro de 2016
Ilustração mostra em vermelho partes do planeta onde já havia presença humana há 80 mil anos, no máximo 120 mil anos após surgimento do Homo sapiens no leste da África; tons mais claros indicam menor número de indivíduos em cada 100 km2, revelando que humanos chegaram simultaneamente ao sul da Europa e leste da China

Modelo com base em evidências fósseis e genéticas mostra que Homo sapiens deixou continente de origem rumo à Europa e Ásia, em 4 ondas migratórias.

Depois de sua origem no leste da África há cerca de 200 mil anos, o Homo sapiens saiu do continente e se espalhou pela Europa e pela Ásia em quatro grandes ondas migratórias distintas, pelo Oriente Médio, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira, na revista Nature. Os autores também concluíram que os movimentos migratórios coincidem com períodos de mudanças climáticas causadas por variações na órbita da Terra.

A pesquisa, liderada por Axel Timmermann e Tobias Friedrich, da Universidade do Havaí (Estados Unidos), foi realizada com base no estudo de evidências fósseis e genéticas. O estudo também concluiu que os humanos chegaram simultaneamente ao sul da Europa e ao sul da China, há cerca de 85 mil anos.

Segundo os cientistas, as migrações ocorreram pela Península Arábica e pela região do Levante (Síria, Jordânia, Palestina e Sinai) em quatro ondas, nos intervalos de 106 mil a 94 mil anos, de 89 mil a 73 mil anos, de 59 mil a 47 mil anos e de 45 mil a 29 mil anos atrás.
Estudos anteriores já previam que mudanças climáticas causadas por variações da órbita da Terra, durante o Pleistoceno Superior (de 26 mil a 11,5 mil anos atrás), teriam influenciado o momento de dispersão do Homo sapiens fora da África. 

No entanto, segundo os autores do novo estudo, a hipótese não havia sido confirmada porque os dados paleoambientais disponíveis em regiões chave eram esparsos demais e porque havia incertezas nas simulações climáticas e na datação de fósseis e registros arqueológicos.

Timmermann e Friedrich construíram então um modelo matemático que quantifica os efeitos de antigas mudanças no clima, das alterações no nível dos oceanos e dos padrões globais de migração humana nos últimos 125 mil anos. 

O modelo conseguiu identificar as quatro consideráveis ondas de migração ligadas às glaciações, passando pela Península Arábica e pela região do Levante. Os resultados, segundo os autores, é coerente com os dados arqueológicos e de registros fósseis.
Neanderthal. Peter Demenocal, da Universidade Columbia (Estados Unidos) e Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres (Reino Unido) publicaram, também na edição desta quarta da Nature, um artigo que comenta o novo estudo. 

Segundo eles, a conclusão de que o sul da Europa teve uma onda de ocupação humana de baixa densidade há mais de 80 mil anos é a mais evidente discrepância entre os resultados de Timmermann e Friedrich e as evidências fósseis e arqueológicas mais aceitas, que apontam para a chegada do homem moderno à região há apenas 45 mil anos.

"Os autores sugerem, porém, que esses pioneiros da Europa teriam sido assimilados pelas populações do homem de Neanderthal, bem mais numerosas", escreveram Stringer e Demenocal.

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