quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Galvão toma posse como diretor do INPE e enfrentará grandes desafios

Redação SindCT
Shirley Marciano
29 de setembro de 2016

Ricardo Galvão assina termo de posse - Fotos: Shirley Marciano

Depois de mais de quatro meses de atraso para nomear e dar posse ao novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para os próximos quatro anos,  o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, passou a faixa para o novo diretor no dia 26 de setembro do corrente, no Auditório do INPE. Portanto, sai Leonel Fernando Perondi para a entrar Ricardo Magnus Osório Galvão. A publicação da nomeação no Diário Oficial União (DOU) ocorreu em 22 de setembro. 

Diferente do que acontece normalmente nesses eventos de posse, a imprensa não estava presente, mas compareceram diversas autoridades da área aeroespacial, como José Raimundo Braga Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), o prefeito de São José dos Campos, Carlinhos Almeida, além do Ministro Kassab. A cerimônia foi rápida e discreta. O ministro não ficou nem para o beija-mão, e driblou os dirigentes sindicais ao escapulir por uma saída dos fundos do INPE. 

A nomeação demorou a acontecer. No dia 28 de abril a lista com os três nomes indicados pelo Comitê de Busca já estava nas mãos da ministra em exercício, Emília Ribeiro Curi. Essa postergação aconteceu, possivelmente, pelo contexto político do País, mas, sobretudo, porque havia inúmeras contestações a respeito do processo de busca do novo diretor. Mas, apesar da consumação da posse, ainda continua em aberto dois processos na Justiça. 

É bom deixar claro que os apontamentos que o SindCT tem feito não se referem à pessoa do Galvão, que é certamente capacitado para assumir a função, como já foi dito a ele na ocasião de uma troca de e-mails para uma entrevista ao Jornal do SindCT. Os questionamentos estão relacionados à forma como foi constituído o Comitê de Busca.

Após a cerimônia das comemorações dos 55 anos do INPE-- sim, casaram os dois eventos --, quando teve início o protocolo de Posse, Perondi falou sobre as realizações durante o seu mandato e agradeceu a todos. Na sequência, Galvão e Kassab assinaram os termos para oficialização da posse ao cargo. Assim, já como diretor, Galvão destacou as dificuldades enfrentadas no País na área econômica e o quanto isto tem afetado as instituições. 

"Estamos atravessando um problema econômico que atinge todas as unidades de Ciência e Tecnologia, o que é muito semelhante às dificuldades do INPE, principalmente no que diz respeito à deficiência de pessoal  e de recursos orçamentários. No entanto, a história mostra que  foi sempre em período de dificuldades que grandes instituições científicas souberam reavaliar seus programas, aprimorar àqueles com resultados  mais contundentes e portadores de futuro, estabelecendo novas prioridades". 

Ele continua, apresentando uma reflexão paradoxal ao que havia dito. "Por outro lado, há também exemplos de instituições que sucumbiram em período de crise, se acomodando às glórias do passado, sem se dar conta de que a ciência moderniza seus questionamentos  e altera os seus paradigmas".

O ponto a ser destacado nas palavras do novo diretor foi sua retórica à respeito de uma decisão tomada pelo governo federal que desagradou a todos-- a fusão dos Ministérios da Ciência e Tecnologia com o das Comunicações. Com essa posição, ele fica na contramão da comunidade científica inteira-- inclusive da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)  e da Academia Brasileira de Ciência (ABC), que ambas se declaram contra a junção dos dois ministérios. 

"Kassab está consciente das dificuldades enfrentadas pela comunidade científica e atuará, eficazmente, para melhorá-las.  Aliás, já demonstrou de forma clara  o seu compromisso, se posicionando com determinação contra o contingenciamento de recursos  para a área de ciência e tecnologia, mantendo o diálogo aberto, franco e cortês com essa comunidade, mesmo em momentos em que foi contestado por manifestantes politicamente motivados", afirmou Galvão.

Mas, num conjunto da obra, sua exposição foi bastante positiva. Disse em diversos momentos que pretende dialogar com os vários atores da comunidade, que quer um assento para o INPE no Conselho da AEB e ainda disse almejar um Programa Espacial como o dos chineses ou indianos. 

Ele fez uma dura crítica a processos antigos e recentes que deram maus resultados. "No passado e mais recentemente houve muitos exemplos de orientações políticas e programas  estabelecidos  por grupos reservados, com poderes de esferas de governo, que produziram resultados desastrosos".

Galvão também reforçou a ideia, já proferida por diversas autoridades, mas que até o momento não houve resultados práticos, do que precisa melhorar. "O programa espacial tem que ser um programa de Estado com garantia de continuidade e de cumprimento de metas, principalmente àquelas estabelecidas em acordos internacionais. Por outro lado, o cumprimento das metas não pode continuar sofrendo atrasos inaceitáveis pela incerteza de garantia de recursos humanos  e financeiros".

Por fim, ele disse também que "apesar da ciência brasileira ter alcançado alto nível no cenário internacional, a profundidade de seus alicerces  continua muito pouca, devido, principalmente, a um exagerado enfoque na publicação de artigos científicos. Essa atitude levou a uma priorização  das importações de equipamentos e instrumentos, mesmo de alguns que poderiam ser produzidos no País". 

Aqui o discurso na íntegra.

Ricardo Galvão possui graduação em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense (1969), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1972), doutorado em Física de Plasmas Aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology (1976) e Livre-Docência em Física Experimental pela Universidade de São Paulo (1983). Tem experiência na área de Física, com ênfase em Física dos Fluídos, Física de Plasmas e Descargas Elétricas, atuando principalmente nos seguintes temas:física de tokamaks, ondas e instabilidades em plasmas, ondas de Alfvén, transporte em plasmas termonucleares, descargas com elétrons fugitivos e aplicações tecnológicas de plasmas (Curriculum Lattes).

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