segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Chegou a hora de dar tchau! [Rosetta]

G1
Cássio Barbosa
23 de setembro de 2016


Imagem: ESA/Equipe Rosetta


Lembra da missão Rosetta? Ela foi lançada em 2004 com o objetivo de estudar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, depois de navegar mais de 10 anos pelo espaço. Em maio de 2014, a sonda entrou em órbita do núcleo do cometa e, depois de esquadrinhar sua superfície em detalhes, lançou o módulo Philae para fazer um pouso suave e estudá-lo in loco.

O pouso da Philae não saiu como o planejado, o módulo chegou com muita velocidade na direção horizontal e com isso as garras que deveriam travá-lo na superfície não conseguiram fazer isso. A Philae acabou quicando duas vezes e foi parar em um barranco à beira de um desfiladeiro, quase na posição vertical. Mesmo com esse pequeno “contratempo”, a Philae recolheu uma quantidade excepcional de dados, que permitiram conclusões fantásticas, como por exemplo a existência de 16 tipos diferentes de material orgânico no solo. As baterias da Philae se exauriram conforme o previsto, mas com a sonda em pé e na sombra de um barranco não foi possível recarregá-las. Sua missão durou pouco, mas até hoje seus resultados estão repercutindo.

Mas a Rosetta continuou orbitando o núcleo do 67P/C-G, ora mais perto, ora mais longe e conseguiu flagrar as mudanças decorridas da alteração da temperatura. Por exemplo, a Rosetta mandou imagens mostrando a emissão de jatos de gás, conforme o gelo subterrâneo se aquecia e vaporizava violentamente.

A missão, de modo geral, é um marco na astronáutica e astronomia e tudo será aproveitado em missões futuras. Por exemplo, um dos instrumentos da Philae foi clonado e está na ExoMars que deve aterrissar em Marte dia 9 de outubro. Além disso, os procedimentos de pouso serão aproveitados nas missões futuras de exploração de asteroides, já que se aproximar e pousar em corpos celestes com gravidade pífia é muito difícil.

Agora chegou a hora de dar adeus a missão

No dia 24 de setembro, o comando da missão vai iniciar uma série de manobras para alterar as órbitas seguintes da Rosetta deixando-as mais e mais elípticas, até que no dia 29 executará a manobra de colisão. Nesse dia, um poderoso disparo de foguetes vai cancelar o movimento orbital da Rosetta em torno do núcleo. Com essa configuração a sonda começará a se aproximar do cometa. Alguém que estivesse na Rosetta ou mesmo sobre o núcleo iria ver tudo como se fosse uma queda livre pura e simples, de uma altura de 20 km.

A queda será feita na menor velocidade possível, em torno de 0,9 metros por segundo, (3,2 km/h) para maximizar a coleta de dados. Durante a aproximação, um conjunto de instrumentos estará funcionando e obtendo dados sobre a composição do gás que se desprende do núcleo, da poeira e do plasma, além de imagens, claro. O conjunto exato de instrumentos ainda está sendo definido, mas o local do impacto já é conhecido.

A região escolhida contém três fossos entre 125 e 140 metros de diâmetro com profundidades entre 50 e 65 metros. Cada fosso chama-se Ma’at e entre Ma’at 2 e 3 fica o local do impacto, batizado de Deir-el-Medina. A ideia é que a sonda consiga observar os três fossos em detalhes durante a descida e como essa região é relativamente plana, espera-se que a sonda consiga enviar dados até tocar a superfície do núcleo.

A região dos fossos foi escolhida porque por eles escapa o gás vindo da vaporização de bolsões de gelo subterrâneos sob a forma de jatos, conforme o núcleo se aquece. Ainda que eles estejam inativos, há gás escapando de maneira menos violenta que pode ser analisado. 

Apesar da velocidade de queda ser bem pequena, ninguém da missão fala em pouso, mas sim em impacto. Ou seja, ninguém espera que a Rosetta sobreviva depois do contato. Na verdade, com o impacto, automaticamente a sonda será colocada em modo passivo, um eufemismo para encerramento definitivo das comunicações.

O impacto está previsto para às 7h40 da manhã do dia 30 de setembro (horário de Brasília), com uma margem de erro de 20 minutos para mais ou para menos. Com os 40 minutos que separam a transmissão dos dados pela Rosetta e a recepção deles na Terra por conta da distância, só saberemos da interrupção do sinal às 8h20, também com margem de erro de 20 minutos. Por motivos óbvios, os dados serão transmitidos em tempo real e as fotos das fases finais devem ser divulgadas na própria sexta-feira.

Mais despedidas



Outra sonda que também está se despedindo de nós é a Cassini. Ela está a menos de um ano de seu ‘gran finale’, como está sendo chamada sua manobra final. Em setembro do ano que vem ela fará um mergulho fatal em Saturno para ser esmagada em sua atmosfera, pondo fim uma missão ultra bem sucedida que foi lançada há quase 20 anos.


O que me deixa mais triste nisso tudo é que, depois do fim da missão Juno prevista para fevereiro de 2018, não haverá nenhuma sonda estudando os planetas para além de Marte e, pior, não haverá nenhuma missão programada para preencher essa lacuna nos próximos anos. A NASA está prometendo um anúncio bombástico sobre algum tipo de atividade registrada em Europa, lua de Júpiter que deve ter um oceano debaixo de uma crosta de gelo de uns 10 km de espessura.

Na minha opinião o Hubble deve ter flagrado algum ponto da crosta de gelo por onde a água deve ter aflorado, mas isso é chute meu. Mesmo que não seja isso, tomara esse anúncio sirva de motivação para que a NASA e a ESA revejam as missões de estudo de Europa e Ganimedes que foram canceladas por serem muito caras, reprogramando para acontecerem em um horizonte próximo.

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