terça-feira, 12 de julho de 2016

Evidências apontam que pernilongo também pode transmitir o vírus Zika

Revista FAPESP
8 de julho de 2016

Pesquisadores da Fiocruz do Recife encontram o vírus em saliva do mosquito com carga semelhante à encontrada na de Aedes aegypti (foto: Culex quinquefasciatus / Wikimedia Commons)

O mosquito Aedes aegypti tem sido apontado como o principal vetor do vírus Zika, que, estima-se,ter infectado, até junho, 49 mil pessoas e causado o nascimento de 1,6 mil crianças com microcefalia em 582 municípios. Contudo, o Zika também pode ter outros vetores, como o mosquito Culex quinquefasciatus, conhecido popularmente como pernilongo ou muriçoca, sobre o qual crescem evidências de que também esteja envolvido na disseminação do vírus pelo país.

O alerta foi feito por Constância Flávia Junqueira Ayres Lopes, pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fiocruz em Recife (PE). Nos resultados dos ensaios realizados pelos cientistas, foram infectados em laboratório mosquitos Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti com Zika, para comparar suas capacidades de transmitir o vírus. Os testes indicaram que o desempenho das duas espécies é muito semelhante. 

Os pesquisadores conseguiram observar a presença do vírus Zika na glândula salivar dos pernilongos e Aedes aegypti três dias após infectados. A fim de verificar se o vírus Zika era capaz de sair da glândula salivar e ser encontrado na saliva dos Culex quinquefasciatus, os pesquisadores realizaram um teste em que expuseram os insetos a um papel filtro coberto com mel e um antibiótico. Ao se alimentar do mel, os mosquitos depositavam saliva no papel filtro, que era coletada e dela extraído o RNA. 

O resultado do ensaio, em vias de ser publicado, aponta que o Zika está presente e com carga semelhante na saliva tanto dos pernilongos quanto do Aedes aegypti. “Como o Culex quinquefasciatus é mais abundante no ambiente urbano do que o Aedes aegypti, queremos saber agora qual tem maior importância no papel de transmissão do vírus Zika”, disse Lopes.

Os resultados dos estudos realizados pelos pesquisadores da Fiocruz foram apresentados à Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomendou à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) que outras espécies de mosquitos – principalmente o Culex quinquefasciatus – fossem investigados em regiões com casos registrados de infecção por vírus Zika no mundo.

Forma de controle

Na avaliação de Lopes, uma das implicações de ter outras espécies envolvidas na transmissão do vírus Zika, caso seja comprovado, é que mudará drasticamente a forma de controle da infecção, que hoje está focada exclusivamente no Aedes aegypti. Enquanto ele pica durante o dia, o Culex quinquefasciatus pica durante a noite. Isso deve provocar uma alteração no hábito das pessoas – especialmente as grávidas – que estão tomando medidas de proteção, como o uso de repelentes, somente durante o dia.

Além disso, enquanto o Aedes aegypti tem preferência por colocar ovos em água parada, de chuva, o Culex quinquefasciatus gosta de colocar seus ovos em água extremamente poluída, como a de esgoto e de fossa. “Isso irá requerer um investimento na melhoria das condições de saneamento no país, que é um problema histórico”, avaliou a pesquisadora.

O controle do Culex quinquefasciatus, contudo, deve ser mais fácil do que o do Aedes aegypti, estimou Lopes.

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