quinta-feira, 23 de junho de 2016

Sucessão na Embraer já estava acertada há tempos, disse Curado

Valor Econômico
João José Oliveira
17 de junho de 2016



Na primeira fala desde que anunciada a decisão de deixar a presidência da Embraer, Frederico Curado, fez questão de ressaltar que a sucessão já estava acertada há tempos, e que a escolha pelo executivo que atualmente comanda a área comercial, Paulo César Souza e Silva, sugere o comprometimento com os projetos dessa unidade de negócios.

"A sucessão já estava planejada", disse Curado, após participar em São Paulo de evento promovido pela Câmara Mundial do Comércio (ICC, na sigla em Inglês). "Quem trouxe o Paulo para a Embraer fui eu há anos", disse Curado, que será substituído a partir de julho, em processo a ser conduzido até dezembro.

Curado apontou que a escolha reflete foco da empresa na aviação comercial. "Na área comercial, ele já vinha fazendo o que eu fazia. Então é a pessoa mais preparada para o cargo", disse Curado. A unidade de jatos comerciais é a mais relevante na Embraer, respondendo por mais de 54% do faturamento e responsável pela família mais nova de aeronaves, os modelos E-2, em desenvolvimento, cujas primeiras entregas começam em 2018.

O presidente da Embraer também minimizou a reação do mercado, no dia seguinte à noite em que a empresa comunicou a troca de comando - quando ações e ADRs da empresa caíram. "O mercado todo caiu naquele dia".

O executivo disse que a decisão de deixar a presidência da Embraer teve forte componente em questões pessoais. "Estou há dez anos na presidência e estou em três conselhos" disse, admitindo que teve a pressão familiar.
Curado vai deixar ao sucessor uma velha briga que já trava há anos, com a concorrente canadense Bombardier.

A fabricante brasileira de jatos abriu no mês passado uma disputa entre Brasil e Canadá, questionando as práticas da concorrente no mercado, depois que a fabricante canadense venceu uma concorrência para vender 75 jatos comerciais para a companhia aérea Delta Air Lines, em negócio da ordem de US$ 5,6 bilhões.

"Precisamos ver se as condições de aporte seguem as condições de mercado. Se seguirem, tudo bem. Mas é estranho que, após a empresa [Bombardier] dar uma baixa de meio bilhão de dólares no balanço, o governo canadense anuncia o aporte desse valor e, depois, a empresa vença uma concorrência com preços muito agressivos", disse Curado, justificando por que pediu ao governo brasileiro que questione a concorrente na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A Embraer quer conferir os termos pelos quais o governo federal do Canadá e a província de Quebec anunciaram acordos para injetar cerca de US$ 2 bilhões na Bombardier. Curado lembrou que Embraer e Bombardier já tiveram no passado disputa na OMC em razão de subsídios governamentais, por meio de bancos de desenvolvimento.

"A partir dali criou-se um quadro em que todas as agências de desenvolvimento trocam informações para checar se há subsídio. Mas parece que criaram [a Bombardier e o governo canadense] uma nova forma [de subsídio]", disse Curado. O executivo negou que a presença de um brasileiro na OMC, Roberto Azevêdo, possa favorecer a empresa.

Para Curado, a política é uma variável que está afetando cada vez mais o comércio global. "Veja a China, que decidiu fazer da aviação uma forma de desenvolvimento e integração, e se transformou em um mercado relevante para a companhia", disse.

Para o executivo-chefe da Embraer, o reconhecimento da China como economia de mercado, previsto para acontecer no fim deste ano, deve ser positivo. "Exportamos para lá desde 1999, temos negócios importantes e é um grande mercado, tanto para jatos executivos como para jatos comerciais. Não podemos reclamar", afirmou Curado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva sua mensagem.